Em minha intensidade, entendo que para se lançar a uma vida inteira, íntegra e integral é preciso atear uma fogueira capaz de consumir o coração por inteiro. É preciso chorar todas as lágrimas e dar o sorriso mais rasgado que se possa. Este, sim, é mistério de estar vivo.
Sentir, ter uma vida feita de tragédias e comédias significa sentir o abraço inteiro de um mundo que gira, levando no peito toda a rotação de um coração convidado a crescer em cada jornada. Sempre um pouco mais…
Ter uma vida pela metade significa permitir que o sabor de um momento, feito para ser agarrado em sua totalidade, escape pelos dedos e fira a alma deixando o suave sabor da desilusão pintado nas paredes com que se erguem os castelos da nossa memória.
Quem nunca se arrependeu por não ter ido mais além?
Viver de metades é fácil. Viver por inteiro não o é. Não existe fórmula para a integralidade da vida, mas talvez o grande desafio de nossa existência seja o de ser capaz de lançar-se de corpo e alma num sonho, num desejo, numa vontade, pois só assim se lhe pode dar sangue, sal, vida, carne e luz de estrelas que, outrora, brilhavam apenas na imaginação.
Neste tempo de vida terrena, aprendi que as contas de matemática não se ajustam à realidade de meus sentimentos e que, na vida, as filosofias são escritas em linhas tortas e que o sangue, por vezes, jorra do peito e que poemas nem sempre são canções de amor. E que certas coisas não se renovam e algumas dores não se apagam.
Descobri, ainda, que quando a vida nos marca para sempre, é mesmo para sempre, seja isso bom ou ruim. E que o tempo não elimina as feridas, apenas nos traz uma certa acomodação a elas e que sorrir numa gota de amor é capaz de lavar uma imensidão de culpas e permite colocar os erros passados em segundo plano. E que viver é chorar ao sol e, não raro, dançar à chuva.
De tudo o que vivi, aprendi que posso dar sempre um pouco mais: para acreditar, para me entregar e para poder viver. Mais um pouco. Sempre.
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