quarta-feira, 31 de março de 2010

4.1

Às vésperas de completar 41 anos, acho que está na hora de pensar na vida. Na morte nem perco tempo. Ela é certa. Já a vida não. Esta, sim, demanda atenção, cuidado, zelo.

Ao longo destas quatro décadas, fico pensando que encontrei pessoas que queriam sempre um pouco mais do que sou capaz de dar. Clientes, amigos, affairs, família. Sinto, cá em meu íntimo, que muitos deles esperaram mais, muito mais de mim. E eu não pude dar. Por vezes, é certo, não o fiz porque simplesmente não quis.

Sempre fui intensa. Gosto da profundidade das ações. Do inusitado, do diferente. Não consigo encarar uma vida feita de metades… Acontece, porém, que se assim permitirmos, vamos ter é uma vidinha pra-lá-de-medíocre. Vida onde se investe metade do tempo. Vida com metades de gente. Metades de sentimentos, de sensações, de emoções. Vida de desejos sufocados, de sonhos não realizados. Vida pela metade.

Em minha intensidade, entendo que para se lançar a uma vida inteira, íntegra e integral é preciso atear uma fogueira capaz de consumir o coração por inteiro. É preciso chorar todas as lágrimas e dar o sorriso mais rasgado que se possa. Este, sim, é mistério de estar vivo.

Sentir, ter uma vida feita de tragédias e comédias significa sentir o abraço inteiro de um mundo que gira, levando no peito toda a rotação de um coração convidado a crescer em cada jornada. Sempre um pouco mais…

Ter uma vida pela metade significa permitir que o sabor de um momento, feito para ser agarrado em sua totalidade, escape pelos dedos e fira a alma deixando o suave sabor da desilusão pintado nas paredes com que se erguem os castelos da nossa memória.

Quem nunca se arrependeu por não ter ido mais além?

Viver de metades é fácil. Viver por inteiro não o é. Não existe fórmula para a integralidade da vida, mas talvez o grande desafio de nossa existência seja o de ser capaz de lançar-se de corpo e alma num sonho, num desejo, numa vontade, pois só assim se lhe pode dar sangue, sal, vida, carne e luz de estrelas que, outrora, brilhavam apenas na imaginação.

Neste tempo de vida terrena, aprendi que as contas de matemática não se ajustam à realidade de meus sentimentos e que, na vida, as filosofias são escritas em linhas tortas e que o sangue, por vezes, jorra do peito e que poemas nem sempre são canções de amor. E que certas coisas não se renovam e algumas dores não se apagam.

Descobri, ainda, que quando a vida nos marca para sempre, é mesmo para sempre, seja isso bom ou ruim. E que o tempo não elimina as feridas, apenas nos traz uma certa acomodação a elas e que sorrir numa gota de amor é capaz de lavar uma imensidão de culpas e permite colocar os erros passados em segundo plano. E que viver é chorar ao sol e, não raro, dançar à chuva.

De tudo o que vivi, aprendi que posso dar sempre um pouco mais: para acreditar, para me entregar e para poder viver. Mais um pouco. Sempre.

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