sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Anestesia e palavras e verdades

No mesmo dia em que fui operada - colocaram dois stents em mim - fui levada de volta à UTI. Na minha cabecinha, a lembrança de ver o vulto do meu filho e de dizer a ele que era sua culpa o que tinha acontecido, ele se afastando e alguém da Enfermagem falando com ele.

Parte de mim acha que foi um comentário cruel. Parte acha que eu tinha razão. O infarto foi causado não por colesterol, não por cardiopatias congênitas, mas por excesso de estresse, de trabalho, de cansaço. Eu trabalhava noite e dia, e de noite ainda não conseguia dormir porque ficava indo de vez em quando no quarto do Eric pra ver se ele não tinha aprontado. Uma noite de sono, então, era mesmo um sonho distante.

Bom, mas a questão é que, naquele momento, eu estava sob efeito da anestesia, totalmente grogue, e falei o que estava sentindo. Então deve ser parte verdade. Minha verdade, quero dizer.

Durante a noite, lembro de alguém que ficava me dando suco num copo com canudinho. Bastava eu me mexer que lá vinha o rapaz, todo atencioso. Não lembro o rosto dele e, apesar de ter ficado vários dias na UTI, nunca consegui descobrir quem era. 
O efeito da anestesia foi passando aos poucos e meu estado alternava entre desperta e dormindo. Quando estava acordada, olhava pros lados e sabia que estava numa UTI. Há poucos dias tinha feito um trabalho pra uma cliente sobre os monitores usados em UTI, então aqueles aparelhos lá me diziam que o que tinha acontecido era grave. Acabei dormindo e só despertei na manhã seguinte com o movimento da troca de plantão.

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