Musiquinha da adolescência que chegou na memória depois de ouvir os trovões e de ver tanta água caindo. Linda cena, mas o dia se tornou cinza. Não gosto de dias cinzentos...
Reconheço, porém, a importância da chuva. Na verdade, devem ser lágrimas do céu. Penso que o dia cinza parece refletir a alma de Deus. E me dou conta que a água escorre no meio-fio, lava a rua, leva toda a sujeira das calçadas embora... e eu continuo aqui.
Tomar banho de chuva é sinônimo de libertação. Você já experimentou? Ou você é daqueles que, quando sente os primeiros pingos, pega logo um guarda-chuva?
O guarda-chuva me protege dos pingos d'água, resguarda meu corpo do tempo chuvoso, mas não do outro tempo, aquele que é a razão de ser dos relógios, o motivo de cremes, a alma das tardes frias e das noites solitárias. E é durante a chuva que percebo o quanto preciso dar uma resposta ao tempo. Qual resposta seria? Para qual pergunta? O que passou em branco durante os dias coloridos de sol e que só hoje, com esse tom de cinza no céu, percebo como grave e importante?
Talvez a minha resposta seja que o tempo nada apaga em mim. Ele, cruel tantas vezes, somente transforma as coisas antigas em coisas novas.
Faço parte do grupo (se é que existe) que conversa com a chuva e com o tempo. Sempre digo ao tempo que não tenho medo que ele passe e leve as coisas com ele, porque sei que na verdade tudo sempre fica. Ele, necessário, apenas as esconde. O tempo escorre no balanço das horas, leva tudo embora, menos eu...
Vez por outra, no entanto, gosto de me abrigar em guarda-chuvas. O guarda-chuva guarda meu corpo da água que escorre do céu, das inclemências atmosféricas, mas não me guarda a alma das intempéries da vida. Ele mantém meu corpo seco por fora e molhado por dentro. Pensamento simplório, entendo que a chuva é um pouco da nuvem e a nuvem um pouco de chuva.
...
Talvez eu também tenha um pouco de cinza dentro de mim... Ou muitas cores. Como deve ser.
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