sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Lições de Vitória

Vitória nasceu no dia 22 de janeiro. Foi a última entre 5 filhotes. Aliás, filhotas. Nesta ninhada, só foram "produzidas" meninas. :)

Desde o primeiro dia, a mãe de Vitória percebeu (como só as mães percebem) que a cadelinha, nascida pesando menos de 100 gramas, teria poucas chances de sobreviver. A mãe, Juju, ficava o dia inteiro carregando Vitória para todos os lugares onde eu passava. Fiquei muito curiosa com aquilo, mas o veterinário me disse que, de alguma forma, eu havia sido a "escolhida" para assumir o papel de "mãedrasta".

Na segunda semana de vida, Vitória começou a apresentar problemas sérios. Não comia, teve infecção intestinal, prisão de ventre, conjuntivite e mais outras coisas que nem me recordo mais. Para a conjuntivite, colírio, lavagem local e desinfecção. Para a prisão de ventre, gotinhas de Luftal e muita massagem na barriguinha.

Mas ela ainda não comia... O jeito foi colocar leite na palma da mão e deixá-la lamber. Diversas vezes ao dia... e durante as madrugadas também.

Vitória ganhou uma caminha, mas ela rejeitou o lugar. Prefere meus sapatos... e quanto mais gastos, melhor! Vá entender.


Hoje, com quase 9 meses de vida, Vitória já corre serelepe pela casa, chora quando vou sair e adora, adora passear de carro. Continua viciada em sapatos, mas já dorme na casinha, come ração, rasga rolo de papel higiênico quando encontra um pelo caminho e já pesa quase 400 gramas! Deu pra entender por que ela tem este nome? Muito justo, não acha?

Mas este post é para contar as lições que Vitória me ensinou:

1. Amor vem com tempo, envolvimento, construção de histórias e crença de que "vai dar certo".

2. Quando a gente ama, aprende a cuidar, abre mão de algumas coisas e faz o que seja necessário para que a "outra pessoa" fique bem... mesmo que esta "pessoa" seja uma cadelinha muito sapeca.

3. Ela não fala, obviamente. Mas abana o rabinho cotó quando chego, chorominga quando vou sair, lambe meus pés quando estou ao computador (este é o jeito de beijar dos cachorros) e se passo por ela sem dar bola, sai correndo atrás de mim até eu parar e fazer carinho. Me faz pensar que, às vezes, a gente precisa de colo, cafuné... então é preciso ser inteligente e buscar isso pra nossas vidas.

4. Ela sobreviveu graças aos meus cuidados, sei disso. Mas também que esse amor que ela demonstra não é "gratidão", até porque cães não têm este sentimento. Ama pela convivência... e talvez porque eu não tenha chulé e, com isso, ela pode continuar dormindo nos meus sapatos, não importa quão sujos eles estejam. :)

5. Nada que eu fizesse poderia ajudá-la se ela não quisesse viver. Ela quis. Eu quis. Ela está aqui. Quantas vezes em nossas vidas precisamos só de uma forcinha, uma palavra de incentivo, um pouco de "leite na palma da mão"? A gente precisa e não pede; sabe quem precisa e não dá. Isso é ruim... A outra pessoa pode descobrir que existem outras mãos pelo mundo. E geralmente descobrem.

6. Sobreviver é uma arte. Viver é uma obrigação. Precisamos, então, nos cuidar melhor para que nossa vida tenha todos estes elementos que Vitória me mostrou.

7. Quando volto pra casa, mesmo que tenha saído por 5 minutos, ela demonstra que está feliz em me ver. Reage ao som de minha voz. Não me pergunta onde estive, o que fiz. Só deixa claro que está feliz porque eu voltei. Por que nós, humanos, não agimos assim?

8. Respeito. Por incrível que pareça, ela entende quando estou concentrada escrevendo e quando não posso parar para dar atenção ou brincar com ela. Volta pra "sapato", mas quando eu me desocupo, vou lá fazer baguncinha com ela. Fico pensando que, às vezes, precisamos disso: mostrar ao outro que estamos com outro foco naquele momento, mas que isso não significa menos interesse ou sentimento. Mas quem entende isso? Seres humanos são complexos...

Esta é a Vitória... que tem me ajudado a resgatar algumas coisas que estavam escondidas lá dentro de mim.

Beijocas (de mim) e lambidas a todos (da Vitória, claro).

3 comentários:

Anônimo disse...

BEIJOCAS EM UMA E "LAMBIDAS" NA OUTRA.Que gracinha as duas.

Loba Vermelha disse...

É, nós somos fofas e modestas. Auuuu! :)

Fana Fanii disse...

ôôôôô.... que fofu!!!