Hoje resolvi escrever para mim. Não para a pessoa que sou agora, mas aquela que fui há algum tempo... há muito tempo, em tempo algum. E escrevo sem nexo. Sem sentido. Só escrevo. Sem medo.
Parando entre uma década e outra, relembrando situações, pessoas, emoções, percebo que minha vida foi motivada pelo medo. Percebi, também, que ao pensar no medo, puro e simples, mordo os lábios, estremeço, finjo um descaso desmedido, e até me distraio com a borda do cinzeiro, a borda do copo, olho para todos os lados, outras vozes, outros "outros".
É, tenho que admitir: o meu medo é dos outros. Nesta hora, a vontade que tenho é de bater na mesa com o punho cerrado, bem forte, gritar bem alto para que minha voz dizendo que o meu medo é e sempre foi dos outros seja ouvida.
Admito, sem culpa, que meu amor-próprio é feito de vontade e medo. Medo e vontade. Ir e vir. Ficar e evançar. Sorrir e chorar. E nessa dualidade extrema enquanto humana que sou, não existem alvos, não existe coragem alguma. O resultado é uma morte lenta e metafórica, por sufocamento. Por ter desejado tanto, mesmo tendo as mãos amarradas, mesmo sentindo a garganta fechada.
O medo. O silêncio. E nele, ouço a palavra debatendo-se no pensamento, sempre desordenado, diria até caótico, morrendo antes mesmo de ser libertada. E talvez os amigos e conhecidos digam, ao redor de minha expressão fúnebre, que morri porque tive medo. Mas, lá no íntimo, estarei me movendo e respirando, talvez até sorrindo com a alma. Mas, exteriormente, aceito a sentença, quieta e silenciosa, porque me dou conta de que não há morte mais sólida e definitiva como são as mortes metafóricas. Em alguns de nós, meros humanos, o que morre primeiro é a graça, a leveza de ser, todos os dias. Em outros, o ânimo, o desejo de ver as coisas sempre como se fosse a primeira vez, e continuar tentando. E continuar com medo.
Minha experiência me diz que muitas são as formas de tentar, e, no entanto, eu, aqui na minha vida repleta de medo, não pratico mais nenhuma delas. Finjo tudo, dia após dia. Dos movimentos aos sorrisos. E se você olhar bem perto, vai perceber que a cada segundo minha respiração também é premeditada. Sinto como se, às vezes, eu tivesse inventado também o ar. E então, sendo o ar uma ilusão, tudo seria ilusão também: a cidade, os carros passando do outro lado da rua e até vocês, em volta da mesa, com seus "eus" brilhantes, experiências de vida e histórias de amor.
Mas eu falava dos outros. Eu falava dos outros e desse ser que existe em alguma parte de mim e a quem me entrego, em noites como essa, quando sinto medo... de mim e dos outros. Mas para compreender o medo, primeiro é necessário dar forma aos pensamentos que se encontram em desajuste, como se sem sintonia estivessem. E nessas horas meio loucas, eu gostaria de inventar palavras, porque sinto que as minhas são frágeis demais, ocas demais para transmitirem o meu "eu" com a força necessária. Mas há o medo.
Quisera poder me entregar de vez, ter o poder de escolha, porque os outros estão sempre em todos os lugares, e mesmo quando não os vejo, lembro, fantasio ou sonho com suas presenças. Quando era fácil tentar, ali no início de minha existência terrena, e eu não conhecia ainda esse sentimento sem-nome de agora. Talvez por isso eu me aproximasse dos outros e trouxesse comigo um "eu" que era possível ser visto, com seu brilho vacilante, mas ainda brilho. E naquele época ainda tinha a esperança de que se projetasse esse "eu" em direção a alguém, esse alguém talvez o aceitasse e acolhesse e então nossos "eus" seriam tão conectados e estariam tão misturados, ainda que independentes e tendo cores e características próprias, que isso seria uma verdadeira união.
Essa união dos nossos "eus" eu, sem sombra de dúvida ou qualquer medo, chamaria de amor.
Mas a vida é feita de chuvas de verão, de tempestades, de sereno. A gente vai escolhendo, vai vivendo e sentindo as gotas que caem sobre nós. Como ou sem medo.
A verdade é que, neste momento, não espero nem desejo por tempestades. No entanto, continuo esperando a casualidade da minha vida. Pode ser uma leve brisa, no meio da tarde. Que me traga boas notícias, mesmo que de passagem. Que me encha de sol, que perfume a minha casa. Que deixe rastros. Que me faça perder o medo.
Parando entre uma década e outra, relembrando situações, pessoas, emoções, percebo que minha vida foi motivada pelo medo. Percebi, também, que ao pensar no medo, puro e simples, mordo os lábios, estremeço, finjo um descaso desmedido, e até me distraio com a borda do cinzeiro, a borda do copo, olho para todos os lados, outras vozes, outros "outros".
É, tenho que admitir: o meu medo é dos outros. Nesta hora, a vontade que tenho é de bater na mesa com o punho cerrado, bem forte, gritar bem alto para que minha voz dizendo que o meu medo é e sempre foi dos outros seja ouvida.
Admito, sem culpa, que meu amor-próprio é feito de vontade e medo. Medo e vontade. Ir e vir. Ficar e evançar. Sorrir e chorar. E nessa dualidade extrema enquanto humana que sou, não existem alvos, não existe coragem alguma. O resultado é uma morte lenta e metafórica, por sufocamento. Por ter desejado tanto, mesmo tendo as mãos amarradas, mesmo sentindo a garganta fechada.
O medo. O silêncio. E nele, ouço a palavra debatendo-se no pensamento, sempre desordenado, diria até caótico, morrendo antes mesmo de ser libertada. E talvez os amigos e conhecidos digam, ao redor de minha expressão fúnebre, que morri porque tive medo. Mas, lá no íntimo, estarei me movendo e respirando, talvez até sorrindo com a alma. Mas, exteriormente, aceito a sentença, quieta e silenciosa, porque me dou conta de que não há morte mais sólida e definitiva como são as mortes metafóricas. Em alguns de nós, meros humanos, o que morre primeiro é a graça, a leveza de ser, todos os dias. Em outros, o ânimo, o desejo de ver as coisas sempre como se fosse a primeira vez, e continuar tentando. E continuar com medo.
Minha experiência me diz que muitas são as formas de tentar, e, no entanto, eu, aqui na minha vida repleta de medo, não pratico mais nenhuma delas. Finjo tudo, dia após dia. Dos movimentos aos sorrisos. E se você olhar bem perto, vai perceber que a cada segundo minha respiração também é premeditada. Sinto como se, às vezes, eu tivesse inventado também o ar. E então, sendo o ar uma ilusão, tudo seria ilusão também: a cidade, os carros passando do outro lado da rua e até vocês, em volta da mesa, com seus "eus" brilhantes, experiências de vida e histórias de amor.
Mas eu falava dos outros. Eu falava dos outros e desse ser que existe em alguma parte de mim e a quem me entrego, em noites como essa, quando sinto medo... de mim e dos outros. Mas para compreender o medo, primeiro é necessário dar forma aos pensamentos que se encontram em desajuste, como se sem sintonia estivessem. E nessas horas meio loucas, eu gostaria de inventar palavras, porque sinto que as minhas são frágeis demais, ocas demais para transmitirem o meu "eu" com a força necessária. Mas há o medo.
Quisera poder me entregar de vez, ter o poder de escolha, porque os outros estão sempre em todos os lugares, e mesmo quando não os vejo, lembro, fantasio ou sonho com suas presenças. Quando era fácil tentar, ali no início de minha existência terrena, e eu não conhecia ainda esse sentimento sem-nome de agora. Talvez por isso eu me aproximasse dos outros e trouxesse comigo um "eu" que era possível ser visto, com seu brilho vacilante, mas ainda brilho. E naquele época ainda tinha a esperança de que se projetasse esse "eu" em direção a alguém, esse alguém talvez o aceitasse e acolhesse e então nossos "eus" seriam tão conectados e estariam tão misturados, ainda que independentes e tendo cores e características próprias, que isso seria uma verdadeira união.
Essa união dos nossos "eus" eu, sem sombra de dúvida ou qualquer medo, chamaria de amor.
Mas a vida é feita de chuvas de verão, de tempestades, de sereno. A gente vai escolhendo, vai vivendo e sentindo as gotas que caem sobre nós. Como ou sem medo.
A verdade é que, neste momento, não espero nem desejo por tempestades. No entanto, continuo esperando a casualidade da minha vida. Pode ser uma leve brisa, no meio da tarde. Que me traga boas notícias, mesmo que de passagem. Que me encha de sol, que perfume a minha casa. Que deixe rastros. Que me faça perder o medo.
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