Quase meia-noite... Fiquei um tempinho na varanda do hotel observando o Rio Juruá. Minha última noite nessa cidade e lá embaixo observo a calmaria que reina nesta parte de Cruzeiro do Sul. Lá fora, porque aqui dentro do meu peito tudo, tudo se agita.
======
No primeiro dia, visitei meus tios e lembrei do cheiro de infância. O coração já deu saltos nessas horas iniciais, mas isso era apenas um leve prenúncio do que ainda iria acontecer.
======
Não quero pensar sobre isso agora. Quero sentir... e só. E sozinha. Só sentir. Sentir só. Neste momento que é tão meu, não cabe mais ninguém. Sou eu com minhas lembranças, minhas memórias e todas as cenas vividas e sentidas aqui, nesta terra que me recebeu quando cheguei a este mundo e que, outra vez, me recebeu para que eu a pudesse mostrar para o mundo nas imagens veiculadas pelo Sat.
Choro houve muito e ainda haverá, sem dúvida. Amor, carinho, mimo, aconhego e muito mais coisas boas, dessas que fazem a gente perceber que família é o que há. Dá até vontade de armar a barraca definitivamente, de me entregar à vida, assim como o rio se entrega ao mar. Sem resistir. Sem forçar barra. Me entregar apenas.
=====
A verdade é que, apesar desse momento ser meu, no mais alto de meu egocentrismo e meu egoísmo, eu queria dividir toda a emoção que tenho sentido nesses dias. E claro que estou chorando. Porque tenho que ir embora. Porque vim parar aqui. Porque eu não pude opinar quando me afastaram de toda essa gente que me descobri amando. Porque me senti muito pequena diante da grandiosidade desse povo. Porque me sinto mal ao pensar na fortuna de minha família quando a riqueza que eu vejo e quero e sinto e preciso é só esse amor com que me receberam. Só. Apenas esse amor autêntico e verdadeiro. Amor esse traduzido no pato "da Léia" que comi hoje no almoço, no caldo de cana extraído na hora pra eu ver como é o processo, no peixe pescado e chegado na pia pra ser tratado ainda se batendo, lutando pela vida, como eu mesma fiz tantas vezes nessa minha história e como vc, que me lê, deve ter feito também.
=====
Todas as mágoas do passado ficaram no ar, antes mesmo do avião aqui pousar. Mas uma coisa eu não posso perdoar: sua ausência, a falta que você me faz. Você, que eu nem sei quem é, mas que eu sei que existe. Você, que deveria estar aqui neste quarto gelado de hotel às margens do Juruá, pra me abraçar, me dizer que eu posso chorar porque tenho esse direito. Você, que deveria me colocar na cama agora e dizer que eu preciso dormir porque ainda tenho gravação daqui a pouco, às seis da manhã, mas que de noite vou estar na minha cama, com minha mãe, meu filho e tudo o mais que me também me serviu de referência nessa vida. Você, que deveria me abraçar bem forte e me fazer acreditar que tudo isso se repetirá um dia e que poderei, então, contar com sua força, seu abraço, seu silêncio. Você. E essa parte de mim que acabei de descobrir. Será que você ainda demora?
Nenhum comentário:
Postar um comentário